ARQUIVO — Dados! De 1 a 120 lados.
Todes conhecem o bom e velho dado de 6 lados. Ele é simples, bonito e funciona. Você não precisa pensar muito para ver o resultado de uma rolagem de um d6, todo mundo tem pelo menos 1 d6 em casa, e d6 geralmente é o dado mais comum e barato nas lojas de jogos.
Então porque qualquer pessoa usaria um dado que NÃO é o d6?
GURPS, AGE e Fate concordariam que os outros tipos de dados são desnecessários, mas Storyteller, D&D, Savage Worlds e muitos outros RPGs discordam. E eu também.
Você sabia que existem 32 tipos de dados diferentes? Variando entre 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 12, 14, 16, 18, 20, 24, 30, 34, 50, 60, 100, 120 e até de só 1 lado? O dado de 1 lado geralmente é um dado inútil com único propósito de fazer piada, e o d2 geralmente não passa de uma moeda, mas a partir daí as coisas ficam mais interessantes.
Nem todos esses dados, entretanto, são justos e tem chances iguais de cair em qualquer uma de suas faces.
Como dados não são nada além de sólidos geométricos, eles são classificados da mesma forma que qualquer sólido. E os dados que são considerados justos, com a mesma probabilidade de cair qualquer uma das suas faces, são os: Sólidos Platônicos, Sólidos de Catalan, Bipirâmides e Trapezoedros.
Os dados que nós vemos na grande maioria das lojas e dos RPGs de mesa são sólidos platônicos: d4, d6, d8, d12 e d20. Além desses o Trapezoedro Pentagonal, d10, também é muito comum.
A popularização desses dados aconteceu nos anos 70 com a utilização deles para o jogo Dungeons & Dragons. E a decisão de usar esses dados não foi por acaso.
D&D foi um jogo concebido com grandes influencias de filósofos da sua época, quando os tópicos de magia, bruxaria, metafísica e religião estavam em seu ápice. Os dados foram influência direta do fascínio da época pelo místico.
Os Sólidos Platônicos eram considerados “poliedros perfeitos”, e alguns ainda os chamavam de “dados dos Deuses”, pois em algumas tradições de magia esses sólidos eram usados como ferramentas de adivinhação (mais ou menos como búzios, tarô ou bolas de cristal).
Existem dados como esses com centenas de anos de idade, mostrando o quão anciã e misteriosa é a sua utilização. E es criadores de D&D se aproveitaram dessas histórias de magia por trás dos dados para trazer um nível amais de imersão para sues jogadores.
Por mais que alguém que vá jogar D&D ou algum jogo similar não conheça as lendas por trás desses sólidos geométricos, ela provavelmente irá se perguntar “Que porra de dado é esse? Que tipo de macumba que eu to fazendo?”. E os dado então funcionarão como um lembrete de que, naquele momento, naquela mesa, com aquelas pessoas, esse jogadore não está mais no mundo real.
É claro que toda essa história de dados estranhos não ajudou nem um pouco com as acusações de RPGs serem jogos do diabo, mas isso é assunto pra outra hora.
A geometria desses sólidos também ajudam na criação e no suporte das mecânicas de jogo.
Cada face de um dado tem uma certa chance de ter uma de suas faces como resultado, e as chances dos “dados justos”
O d4 tem 4 faces com 4 números, e cada um desses números tem 25% de chance de aparecer. Se tratando de um dado tão pequeno com tão poucas possibilidades, ele é usado para realizar testes pequenos com poucas variações, como por exemplo, calcular a classe de armadura de um mago.
O d20, entretanto, tem muito mais números com chances muito menores de se acertar. Cada número do d20 tem apenas 5% de chance de aparecer. E testes de aptidão podem ser calculados em porcentagens de 5 em 5 porcento.
Isso é feito com a atribuição de números. “Se você tirar qualquer número acima de 5 você tá de boa” indicando que a pessoa em questão tem 75% de chance para passar nesse teste. É uma forma ótima de implementar probabilidade no seu jogo de mesa.
E existe toda essa outra gama de dados entre o d4 e o d20 que são capazes de fazer isso.
Geralmente o uso do d20 é preferível para realizar esses testes por trabalhar com porcentagens múltiplas de 5. É difícil ter esse tipo de precisão com um d6, por exemplo, que cada número tem 16.6666666667% de chance de aparecer.
Mas tem um outro dado com um nível de precisão percentual alto sem probabilidades quebradas de cair sobre uma de suas faces. Este seria o d10, ou o Trapezoedro Pentagonal.
O trapezoedro pentagonal é o terceiro em uma infinita série de poliedros duais aos anti prismas chamados de trapezoedros. Ele possui dez faces e tem 10% de chance de pousar sobre qualquer uma delas.
Então, assim como o d20, o d10 tem precisão percentual o suficiente para trabalhar com qualquer tipo de probabilidade que você queira colocar nos seus jogos, e alguns sistemas de RPG preferem o uso do d10 sobre o uso do d20. Mas esse não é o único motivo pelo qual esse dado é especial.
Trapezoedros permitem que dados com faces infinitas sejam criadas, então se você quiser criar um dado com um número de faces mais único para o seu jogo, você pode se basear no formato do d10.
Mas esse não é o motivo pelo qual o d10 é REALMENTE especial e único. O verdadeiro motivo para isso é: Vários dados de 10 lados são capazes de criar vários números decimais.
O que eu quero dizer com isso? Bom, vamos dar um exemplo: eu tenho 2d10, e eu preciso rolar um número maior que cinquenta por qualquer motivo que seja. Se eu for simplesmente rolar os dados e somar os números é impossível que eu chegue até esse número, mas e se eu atribuir cada dado a uma casa decimal?
Eu rolo os dois d10. Meu d10 vermelho resultou num 5, e meu d10 azul resultou num 6. Se eu determinar que o dado azul é a dezena do meu teste, e que o dado vermelho é a unidade, concluo que o meu resultado foi 65.
Esse tipo de rolagem é tão justa quanto as rolagens dos sólidos platônicos e dos trapezoedros, e pode conferir um número infinito de níveis de precisão para as probabilidades do seu jogo.
Tenha cuidado com essa técnica, entretanto. Dados de 10 lados costumam ser caros, e a última coisa que você quer para o seu jogo são detalhes demais.
Existem várias opções de como implementar essas pequenas pedrinhas bonitas nos seus jogos. E olha só pra elas! Não são lindas? Dados são como jóias pra nerds! Não tem porque não usá-los!
Espero que vocês tenham gostado de aprender um pouquinho mais sobre esses sólidos geométricos tão adoráveis. Eu com certeza adorei.
